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O Leite das Pedras

2021 

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Estava entrando na terra, nas profundezas, onde tudo é silêncio e verdade. Na pedreira não existe espaço para equívocos. Pedras são sinceras, honestas, justas. Nada é gratuito perante o material forjado na decantação. Por ser sedimentar, formou-se pelas partículas do que não mais se sustentou em outro corpo, o que foi gasto, corroído pelo vento, aquecido pelo sol, lavado pela chuva e comido pela terra. Acolhimento dos restos que por, pressão e calor, juntou-se para obter resistência e força. O tempo é outro, camada sobrepostas sobre camada. Tudo que não se sustentou, caiu. Material orgânico decantado, sensível ao mundo do qual ele é feito, dele não se separando. Os destroços seguem, não aguentando mais ser poeira acolhe a pressão, as altas temperaturas e se cola. Na relação com outros fluxos de vida tudo se junta. É com o tempo, o tempo das pedras. As sedimentares, acumuladas em planaltos na crosta terrestre, são antes de tudo material fóssil que se transformou na compactação das partículas. Virou outra coisa. Porém, as cicatrizes de seu corpo falam que ali já foi abrigo de poeira, de partículas, destroços do material rendido para torna-se forte.

O Leite das Pedras #01
03:07

O Leite das Pedras #01

Unir as pedras não significa criar uma unidade, mas um multiverso, uma composição de coexistências múltiplas. Portanto, praticar este tipo de conhecimento é instaurar novas existências com o redirecionamento de fluxos e forças. Unir as pedras não significa criar uma unidade, mas um multiverso, uma composição de coexistências múltiplas. Praticar este tipo de conhecimento é instaurar novas existências com o redirecionamento de fluxos e forças. O Leite das Pedras tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Pedro Calmon (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultural do Ministério do Turismo, Governo Federal.
O Leite das Pedras #04
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O Leite das Pedras #04

O Sertão nunca foi um polo de bipartição apenas geográfica. Desde os tempos da colônia, o Sertão é o outro, concebido para se opor ao processo de civilização que o colonizador representa. Como outro, o Sertão assombra a nação, desmontando o artifício da civilização brasileira, seu caráter postiço e inautêntico, dizia Selma Sena. Os corpos dos extratores não são mediadores, mas constituinte de um conhecimento das pedras. Este conhecimento por eles produzidos não diz respeito a um deslocamento cósmico no sentido de assumir o ponto de vista das pedras, mas sim, da habilidade de ser afetado por elas, de se “simpatizar” com esse “outro”. O Leite das Pedras tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Pedro Calmon (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultural do Ministério do Turismo, Governo Federal.
O Leite das Pedras #03
04:14

O Leite das Pedras #03

Estava entrando na terra, nas profundezas, onde tudo é silêncio e verdade. Na pedreira não existe espaço para equívocos. Pedras são sinceras, honestas, justas. Nada é gratuito perante o material forjado na decantação. Por ser sedimentar, formou-se pelas partículas do que não mais se sustentou em outro corpo, o que foi gasto, corroído pelo vento, aquecido pelo sol, lavado pela chuva e comido pela terra. Acolhimento dos restos que por, pressão e calor, juntou-se para obter resistência e força. O Leite das Pedras tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Pedro Calmon (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultural do Ministério do Turismo, Governo Federal.
O Leite das Pedras #02
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O Leite das Pedras #02

Uma pedreira é identificada pela “costelinha” da pedra que aparece na superfície da terra; as pedras são “sufocadas” antes de serem partidas; a base da jazida é o “pé” e o limite superior a “cabeceira”. Levando em consideração o que foi dito pelos extratores e não entendendo esta afirmação como metáfora, percebe-se que existe “humanidade enquanto condição” para as pedras. A condição “humana” pode ser entendida aqui como a capacidade de atribuir um ponto de vista, ou seja, de sujeito. Como nas cosmologias ameríndias, que “procede segundo o princípio de que o ponto de vista cria o sujeito”, na relação entre extratores e pedras, as pedras são percebidas pela sua potência, força e fluxos, não podendo assim ser objetificadas e distanciadas. O Leite das Pedras tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Pedro Calmon (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultural do Ministério do Turismo, Governo Federal.
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